quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Réquiem vermelho



O que será de nós neste vazio?
Silêncio! E só nele, tão sós, calados, cálidos.
Com os passos daquele
Que produzia em memórias uma visão
Noturna, mesmo que sutil.
E só, com seus silêncios da noite
Retumba o sábio já deitado,
Calando nossas bocas
Com um enorme grito de silêncio.
Mastiga e ensina sua filosofia,
Poeta que só ele,
Mestre dos meus pequeninos passos
Dedicados agora nestes singelos versos
Vermelhos fúnebres, Réquiem carmim sutil.

Lembra então daqueles meses no qual me aparava?
Espera-me lá, poeta, depois do arrebol,
Porque estará gravado à ferro teu sangue,
Teus estigmas ao nó de minha carne fresca.

Tua imagem não se desfalece
Nem mesmo perante o tempo:
Majestosa ave das surpresas,
Senhor das cicatrizes.

Esperar-te-ei até o próximo arrebol.

ETERNO!

“Ouço e sigo os passos daquele, cuja voz nunca ouvi,
Mas tenho guardado aqui no peito, em algum local,
As lacunas da sua presença e do seu sorriso”.

Abra-te Sésamo




Vendas não apenas nos olhos que carregais,
Vendas em cada ducto de alma,
Certa escuridão nos traz a invisibilidade
Diante de qualquer par de ocelos mórbidos.
Abra teus olhos, arranque essas vendas...

Não esconderás a janela da alma,
Pois não é o que os olhos se tornam?
Abra o espelho da amálgama,
Deixe a luz atravessar os corpos translúcidos
Até que o Nanquim contorne-se em delineador.

É só abri-los para notar as nuvens negras que se aproximam
À ver brotar cotilédones das flores do mal,
Ceifá-las com mil espadas de luz,
A luz que a retina capta, seiva
De manter abertos os olhos da verdade.

Até quando será justiça cega por nós?
Que de tão cega não enxerga os crimes, fato!
Abra seus olhos e os da verdade anciã,
Para que a justiça possa bem enxergar
De qual sangue seu florete tem forjado pétalas.



Não deixe a porta do espírito apenas entreaberta,
Assim te tornarás um abismo sem fundos,
Nenhum cavaleiro fará continência ao frio de teus olhos,
Nenhuma rosa será humilde a despetalar ao teu lado,
O celibato do mundo pertencerá aos acordados.

Na escuridão tudo é relativo, tudo se consome,
A treva aceita qualquer coisa, tudo é igual,
Cria inimigos que não existem e se diluem,
O medo encarna formas de tormento do metal.
Tire essas vendas, abra seus olhos, Abra-te sésamo!

Como é bom dar luz às telas do afresco,
Levantar a fenda dos elmos, pintar cores vida
Em cada movimento sutil de um Samurai algoz
Até as cores morte de sua lâmina plúmbea
Que está de olhos alerta, sempre atentos, se reveste de chamas.

Tire as sombras de dúvidas, a venda sombria
Abra teu sésamo e veja
A luz que clama
E é chamada
Dia.

Bagunça no Espelho

Amanhã o sol vai nascer ao norte
E a bússola apontará o tempo.
Não as horas,
Mas se vai chover ou nevar.

Amanhã vou partir do pressuposto
De que as mães são filhas de seus filhos
E de que o cego é mais feliz
Porque não vê a beleza do mundo.

Amanhã os beatos vão invadir
O beco dos vândalos
Para quebrar seus copos e espelhos
Ateando fogo nos seus telhados.

Que país é esse onde o elaborado “y”
É mais “pomposo” do que o simples “i”?
È o Brasyl das Maryas,
Das sebastyanas.

Amanhã vai nevar no Rio de Janeiro
E congelar as praias de Copacabana.
Amanhã eu vou de bermuda e regata
Para a Sibéria. Não vou perder o calor escaldante.

Amanhã a lua vai nascer
E morrer ao meio dia.
Amanhã será o dia depois de ontem
E o hoje será um pudim.

Amanhã as ONGs de paz
Ameaçarão seus aliados
Com facas e calibres trinta e oito.

Os terroristas distribuirão flores
Nas ruas, apaixonados pela vida, os suicidas.

Amanhã a paz será somente
Uma porção de sangue debaixo dos tapetes
E as cortinas serão usadas
Para que a luz do dia entre.










Amanhã quem não roubar vai preso
E quem matar será rei,
Numa terra onde matamos a carne
Para comer os ossos.

Esta terra: Brasyl
Ontem eu vi um defunto pela rua!
Mas, o mundo não vive cheio deles, Dom Casmurro?
Aqueles defuntos vivos por fora
Mas pútridos por dentro?

Pois sim, Dom Quixote
Penso logo existo? Já dizia o filósofo.
Ora, que calúnia!
Não da pra se viver num mundo onde
Só se preocupam que você pense.

Amanhã vamos beber nitroglicerina
E incendiar escolas com água.
Amanhã seremos nós mesmos
Seremos Brasil.